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Transtorno do Espectro Autista na Saúde Suplementar: Desafios, Avanços e Caminhos Possíveis

O número de diagnósticos de Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem aumentado ano após ano no Brasil. Isso se deve, em parte, a uma maior conscientização, aprimoramento dos critérios diagnósticos e ao avanço das discussões sobre neurodiversidade. Mas será que os serviços de saúde – especialmente os da rede suplementar – estão preparados para essa realidade?

Neste artigo, trazemos os principais pontos de um estudo recente que analisou o cenário do TEA na saúde suplementar brasileira, com reflexões importantes para famílias, profissionais e gestores.


O Crescimento dos Diagnósticos e os Desafios no Atendimento

Estima-se que 1 em cada 36 crianças esteja dentro do espectro do autismo. Esse aumento na identificação, embora positivo para o acesso ao diagnóstico e às intervenções precoces, também evidenciou um problema preocupante: a estrutura de atendimento não acompanhou esse crescimento.

Enquanto clínicas especializadas se multiplicam em grandes centros, famílias de regiões mais afastadas enfrentam filas de espera e falta de profissionais qualificados.


A Resolução 539 da ANS: Avanço com Pontos de Atenção

Desde 2022, com a Resolução Normativa 539, passou a ser obrigatória a cobertura de qualquer método terapêutico indicado pelo médico assistente para pessoas com TEA. Na prática, isso representou um avanço importante para muitas famílias, que antes precisavam recorrer à Justiça para conseguir tratamentos.

No entanto, como a norma não exige comprovação científica de eficácia, a cobertura se estende inclusive a métodos sem respaldo em evidências, o que pode gerar confusão, disputas judiciais e impacto na sustentabilidade dos planos de saúde.


Intervenções Baseadas em Evidências: Qualidade é Mais Importante que Quantidade

Um ponto central do estudo é o alerta sobre o excesso de prescrições e a falta de personalização das intervenções. Muitas crianças são submetidas a jornadas terapêuticas de 20, 30 ou até 40 horas semanais, sem que se considere seu perfil ou o impacto dessa carga na rotina familiar.

Evidências mais recentes, como a meta-análise de Sandbank e colaboradores (2024), indicam que mais horas de terapia nem sempre significam melhores resultados.

Por isso, é fundamental focar em práticas baseadas em evidências, como ABA, comunicação alternativa (CAA), suporte visual e vídeomodelação – todas elas utilizadas de forma integrada, com sessões bem estruturadas e com acompanhamento contínuo.


Custo, Acesso e Escassez de Profissionais

As intervenções de qualidade exigem profissionais especializados. No entanto, o Brasil ainda enfrenta uma grande desigualdade na formação: enquanto há muitos psicólogos no mercado, faltam fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e analistas do comportamento com formação sólida e certificações adequadas.

Além disso, o modelo atual de remuneração por hora estimula a alta rotatividade e o burnout, o que afeta diretamente a continuidade dos tratamentos.


O Papel da Tecnologia: Um Caminho Promissor

Aplicativos de monitoramento, comunicação entre terapeutas e famílias, uso de inteligência artificial para diagnóstico precoce e até realidade virtual para simulação de interações sociais já são realidade em alguns serviços. Essas ferramentas tornam o cuidado mais personalizado e eficiente, além de economizarem tempo e facilitarem o registro de progresso.

Aqui no Matraquinha, acreditamos muito nesse caminho e já oferecemos soluções assistivas que ajudam famílias a criar rotinas, se comunicar de forma alternativa e dar mais autonomia às crianças.


Caminhos para um Futuro Mais Justo

O estudo destaca que o cuidado com pessoas autistas precisa ser construído de forma colaborativa, com:

  • Intervenções personalizadas e humanizadas.
  • Formação contínua de profissionais.
  • Modelos de remuneração baseados em resultados, não em volume.
  • Parcerias público-privadas para ampliar o acesso.
  • Regulação eficiente para evitar práticas inadequadas.

Além disso, é fundamental respeitar os limites da criança e incluir momentos de lazer, convívio social e experiências significativas no dia a dia – algo que nenhuma terapia deve substituir.


Conclusão

Mais do que ampliar o número de terapias ou buscar a “melhor técnica”, o que realmente importa é construir um cuidado centrado na criança, respeitoso, baseado em evidências e em sintonia com a realidade de cada família.

Se você é pai, mãe ou cuidador e está buscando apoio, informação de qualidade e ferramentas práticas para o dia a dia, conheça os recursos oferecidos pelo Matraquinha. Juntos, podemos promover mais autonomia, inclusão e bem-estar para nossas crianças.


Fonte: Este artigo foi inspirado no estudo “Transtorno do Espectro Autista na Saúde Suplementar”, desenvolvido por Felipe Delpino e Grazielle Bonfim, com apoio do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) e colaboração da Genial Care. O material oferece uma visão abrangente sobre os desafios e oportunidades na atenção ao TEA dentro do sistema de saúde suplementar brasileiro. Para quem deseja se aprofundar, o relatório completo está disponível gratuitamente online.